sexta-feira, 24 de junho de 2011

Rotina: introdução da aula ou gestão do tempo?

Fonte: Nova Escola

         Quando comecei a trabalhar com a Educação Infantil  logo percebi que organização era muito importante para as crianças pequenas. Tanto as menores quanto as maiores precisam conhecer o que iria acontecer durante o dia para que se sentissem seguras.
         Há algum tempo pensei que o conceito Rotina ia além das atividades de introdução de uma aula e, foi assim que percebi que na literatura seu significado divergia das práticas do dia-a-dia, em especial do que se registra nos planos de aula e nos diários.
         Simplicar este conceito, ou seja, entendê-lo somente como os momentos iniciais da aula não me satisfazia e foi assim que coloquei-me a investigar o que os autores queriam dizer com Rotina. E, assim compartilho convosco as minhas descobertas.
           Percebi que o termo ia além dos momentos iniciais da aula (como muitos colegas ainda insistiam que fosse), que a Rotina:
       - era uma forma qualitativa de gerir o tempo;
       - contribuía para o desenvolvimento real da criança;
       - permitia que os objetivos fossem atingidos;
       - tornava a aula mais organizada, significativa e prazerosa, e;
       - possibilitava maior segurança e autonomia para as crianças.

         Nas pesquisas, por mim, realizadas observei que uma escola infantil que se preocupava com o desenvolvimento integral da criança busca na gestão do tempo o respaldo para alcançar seus objetivos. Fomenta suas práticas de tal maneira que todo o processo educativo contribui para a aprendizagem significativa, que vai  além dos conceitos.
         Entendi então, que Rotina é a forma de gerir o tempo na Educação Infantil - o desenvolvimento prático do planejamento - que este traz segurança à criança, pois permite que ela preveja as ações a serem realizadas e possibilita que os diferentes eixos a serem trabalhados nas creches e pré-escolas sejam contemplados.
           O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, em seu volume intitulado Introdução,  ao tratar da organização do tempo, descreve que "A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações de aprendizagens orientadas. [...]" (BRASIL, 1998, p. 54. Grifo Nosso.)
           Digo isso, por que "A gestão do tempo em Educação Infantil requer flexibilidade e planejamento constantes. A prioridade é o atendimento às crianças, com necessidades de cuidados e aprendizagem próprias, que devem ser sempre respeitadas", diz Ana Paula Yazbek, pedagoga e formadora de professores do Centro de Estudos da Escola da Vila, em São Paulo".
          Ao organizar o tempo, o professor precisa ter em mente que

[...] A apresentação de novos conteúdos às crianças requer sempre as mais diferentes estruturas didáticas, desde contar uma nova história, propor uma técnica diferente de desenho até situações mais elaboradas, como, por exemplo, o desenvolvimento de um projeto, que requer um planejamento cuidadoso com um encadeamento de ações que visam a desenvolver aprendizagens específicas. Estas estruturas didáticas contêm múltiplas estratégias que são organizadas em função das intenções educativas expressas no projeto educativo, constituindo-se em um instrumento para o planejamento do professor. Podem ser agrupadas em três grandes modalidades de organização do tempo. São elas: atividades permanentes, seqüência de atividades e projetos de trabalho.  (BRASIL, 1998, p. 54-55. Grifo Nosso.)
        E incluo ainda, nestas três grandes modalidades de organização do tempo, uma quarta intitulada atividades ocasionais. Sendo que estas quatros juntas formam a estrutura básica no quesito estrutura de organização do tempo, indicando que tipos de exercícios devem ser desenvolvidos nas creches e pré-escolas e ajudando o professor na hora de escolher e propor as atividades para sua turma. Noutras palavras, dizemos: um bom planejamento as incluem em sua rotina diária.
A rotina na educação infantil pode ser facilitadora ou cerceadora dos processos de desenvolvimento e aprendizagem. Rotinas rígidas e inflexíveis desconsideram a criança, que precisa adaptar-se a ela e não o contrário, como deveria ser; desconsideram também o adulto, tornando seu trabalho monótono, repetitivo e pouco participativo. (BRASIL, 1998, p. 73)

         Fazer uso desta informação de modo que a rotina não se torne um entrave à aprendizagem dos pequeninos, nem tão pouco desconsidere a importância do brincar para o desenvolvimento destes, faz parte do pensar qualitativo na Educação Infantil.
A organização do tempo deve prever possibilidades diversas e muitas vezes simultâneas de atividades, como atividades mais ou menos movimentadas, individuais ou em grupos, com maior ou menor grau de concentração; de repouso, alimentação e higiene; atividades referentes aos diferentes eixos de trabalho. (BRASIL, 1998, p. 73. Grifo Nosso.)
         A diversidade de tipos de atividades, promove ludicidade à aula e possibilita que as crianças, com suas diferentes personalidades, ritmos e culturas se sintam incluídas e contempladas. A contemplação dos diferentes eixos além de fazer com que o currículo seja cumprido permite dinamicidade a aula, tornando-a muito mais gostosa.
Considerada como um instrumento de dinamização da aprendizagem, facilitador das percepções infantis sobre o tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensível para as crianças é fator de segurança. A rotina pode orientar as ações das crianças, assim como dos professores, possibilitando a antecipação das situações que irão acontecer. (BRASIL, 1998, p. 73. Grifo Nosso.)
         Desde bem pequena a criança tem condições de compreender uma 'rotina clara'. Quando a escola toma para si tal exercício todos se sentem seguros e a introdução de novos conceitos acontece de maneira tranquila.
         Hoje, entendo que Rotina é um conceito que traz implícito em si a forma de gerir o tempo escolar, neste caso em especial na sala de aula e o que muitos registram como tal em seus diários é somente a introdução de uma aula. Para vislumbrarmos melhor tal entendimento sugiro a leitura da reportagem de Noêmia Lopes, intitulada Como organizar a rotina em creches e pré-escolas e publicada pela revista Nova Escola. Assim, como a análise do vídeo Rotina e aprendizagens no berçário de Sílvia de Jesus.

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                                  Propostas simultâneas otimizam o dia a dia das crianças e evitam momentos de espera
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Rotina e aprendizagens no berçário
Para vislumbrar, na prática, o conceito Rotina que vejam o vídeo abaixo: Rotina e aprendizagens no berçário, protagonizado pela prof.ª Sílvia de Jesus. Uma experiência muito rica,  que permite a reflexão sobre o que vem a ser tal conceito e sua importância para o desenvolvimento das crianças menores.
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Curiosidade:
No início de minha carreira foi orientada que a rotina era sinônimo de: oração inicial da aula, leitura do alfabeto, do relógio do tempo e da contagem dos números. E, que deveria ser registrada como primeiro conteúdo de cada aula. Num curso que fiz percebi que esta ia além destas atividades; que tais atividades num bom planejamento compõe a Introdução da aula. E, que cada boa aula, tem: introdução, desenvolvimento e conclusão.
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Referências:
LOPES, Noêmia. Como organizar a rotina em creches e pré-escolas. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/como-organizar-rotina-creches-pre-escolas-organizacao-gestao-tempo-propostas-simultaneas-momentos-espera-544865.shtml?page=0

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il.

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