quarta-feira, 1 de junho de 2011

Para Gostar de Ler

Em louvor a esta arte, é meu intuito reativar o interesse por sua importância, reavivando-a na lembrança dos quem escutam. Afinal, quem não se lembra de alguma história ouvida na infância? (COELHO, 1998, p. 8)
 
         Há pouco fui interrogada como podemos fazer para gostar de ler. Era uma jovem de uns 20 e poucos anos. Bonita, simpática, educada, e já no mercado de trabalho.
         Parei antes de responder. Esta não era uma pergunta esperada e nem uma resposta fácil. Em segundos pensei: Como pode alguém tão jovem e já no mercado de trabalho não gosta de ler?
         Olhei para ela e disse:
         - Depende? Se for uma criança é fácil, mas se for um adulto é preciso treinar. Em poucas palavras lhe disse que para cada idade há estratégias diferentes e que no caso dela era preciso estabelecer uma rotina de leitura e escolher um horário que não estivesse cansada.
         Ela disse-me que não gostava de ler e quando pegava um livro logo vinha o sono. Sei que este é um problema não só de uma jovem brasileira, mas de grande parte da nossa população e advém da nossa falta de cultura de ler para nos informar, nos divertir ou mesmo estudar. Os índices estão ai para nos alertarem, mas nem sempre os adultos percebem a importância da falta de leitura.
         Um adulto ter esta preocupação e externá-la me chamou muito atenção. Logo, pensei nos objetivos da educação infantil e questionei o fato desta ser um lugar de desenvolvimento da linguagem oral e escrita e, em muitos casos, não cumprir com o seu papel. Lembrei-me
Inventar, ler e contar histórias são tarefas importantes nas creches e pré-escolas. A narrativa para crianças pequenas envolve todas as oportunidades de interação que a criança tem com seu mundo imaginário. Ouvir e ler histórias de várias formas, fazer de conta, dramatizar com fantoches as leva a apreender melhor a realidade. (SILVA; COSTA; MELLO, 2006, p. 91)
         Pelos meus cálculos aquela moça vivenciou a pré-escola, e não participou de atividades realmente significativas no campo da linguagem, o que a levou a tal desinteresse pela leitura. E este fato nos leva a perceber que a literatura precisa ganhar lugar de destaque nas escolas e deixar de ser utilizada na educação infantil como forma de manter os pequeninos calmos e organizados a espera dos seus pais.
         Nas salas infantis devem ter momentos e atividades diferenciadas que propiciem o gosto pela leitura. Por isso, é preciso que haja uma preocupação com o planejamento destes momentos, escolhendo as estratégias adequadas para cada tipo de história, de modo que além do hábito estes sejam momentos que promovam o prazer pela leitura.
         Há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem – “se ficarem quietos, conto uma historia”, “se isso”, “se aquilo...” – quando o inverso é que funciona. A história aquieta, serena, prende a atenção, informa, socializa, educa. Quanto menor a preocupação em alcançar tais objetivos explicitamente, maior será a influencia do contador de historias. O compromisso do narrador é com a história, enquanto fonte de satisfação de necessidades básicas das crianças. Se elas as escutam desde pequeninas, provavelmente gostarão de livros, vindo a descobrir neles historias como aquelas que lhes eram contadas. (COELHO, 1988, p. 12)
         Os educadores precisam apreender que ler para e na sala de aula é algo importantíssimo para o desenvolvimento da criança pequena, e que além do aumento de vocabulário e desenvolvimento da linguagem propicia saberes em outras áreas. Já que “A história não acaba quando chega ao fim. Ela permanece na mente da criança, que a incorpora como um alimento de sua imaginação criadora.” (COELHO, 1998, p. 59).
         Tornar-se um contador, então, faz parte do perfil necessário para ser um professor da Educação Infantil. Uma vez que: "Um contador de histórias educa, socializa, informa e desperta a imaginação das crianças na creche" [e na pré-escola], segundo Costa (2006, p. 89).
         As atividades de leitura ao serem bem planejadas possibilitam à criança a construção de um repertório de vivências que lhe dá condições de atuar em diferentes situações, de se reconhecer tanto nas personagens quanto nas situações ali descritas. Coelho nos alerta, dizendo:
Constatada a importância da historia como fonte de prazer para a criança e a contribuição que oferece ao seu desenvolvimento, não se pode correr o risco de improvisar. O sucesso da narrativa depende de vários fatores que se interligam, sendo fundamental a elaboração de um plano, um roteiro, no sentido de organizar e assegurando-lhe naturalidade. O roteiro possibilita transformar o improviso em técnica, fundir a teoria à prática. (1988, p. 12-13)
        Conhecer a história, lê-la inúmeras vezes, observar os detalhes e estudar cada um deles ajuda o professor a ganhar intimidade com ela, adaptar a linguagem dos livros a sua turma (se necessário) e ter sucesso na hora de contá-la. Na educação formal, também,
Sempre que possível, convém propor atividades subseqüentes. As chamadas atividades de enriquecimento ajudam a “digerir”, esse alimento num processo de associação a outras práticas artísticas educativas. A história funciona então como agente desencadeador de criatividade, inspirando cada pessoa a manifestar-se, expressivamente, de acordo com sua preferência. (COELHO, 1998, p. 59)
        Ao finalizar uma história é preciso ter momentos para comentá-la, aumentando o deleite do ouvinte. Contudo, não há obrigatoriedade em se propor para cada história narrada uma atividade estruturada e nem tão pouco o levantamento de questões interpretativas na conversa após a história. Para Coelho        
Comentar não significa propor questões interpretativas e muito menos destacar a mensagem contida na história. A criança por si só percebe essa mensagem e a revela nas colocações que faz. São comentários interessantes, oportunos, engraçados, algumas vezes denunciando conflitos existenciais. O comentário do ouvinte evidencia o efeito da história contada e oferece condições de avaliar sua maior ou menor repercussão. [...] (COELHO, 1988, p. 57)
        E a partir deste efeito da história contada o educador pode avaliar a sua atuação e buscar novos caminhos no intuito de levar seu aluno à busca do prazer pela leitura.
        A Educação Infantil precisa, em suma, incluir em sua rotina diária (nas atividades permanentes) a “Hora da História”. O livro (o objeto) precisa estar presente nesta hora, indiferente da técnica escolhida e a ele deve ser dado destaque. O educador infantil precisa embebedar-se de histórias infanto-juvenil, vivenciar este mundo mágico e conhecer os recursos e técnicas que enriqueça a narrativa e levem prazer às atividades de leitura. À criança pequena deve ser assegurado o prazer no ato de aprender, por meio de atividades lúdicas de leituras significativas.

Curiosidade:
No site kidleitura.com, no endereço: http://www.kidleitura.com/, há um contador de histórias on line, para crianças em fase inicial de alfabetização, e pode ser utilizado em escolas de educação infantil e em casa na companhia dos pais.
Para saber mais, leia:
COSTA, Edna Ap. A. da. As histórias de um contador. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
As histórias, sob a ótica das crianças. Faixa etária: 0 A 3 anos. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/>.
Dicas de atividades:

SILVA, Lésia M. Fernandes; COSTA Edna Ap. A. da; MELLO Ana Maria. Os contos que as caixas contam. 8. ed. In: Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2006.

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